Muito cedo eu aprendi, com meus amigos Fernando Pessoa e Jorge Luis Borges, que
inventar biografias é um passatempo maravilhoso. Acredito que as biografias imaginárias
são mais verdadeiras do que as biografias empíricas. Minha biografia verdadeira afirma
que Luiz Bras é o alter ego do escritor Nelson de Oliveira, que, de acordo com a imprensa
brasileira, se aposentou da literatura em 2012 e saiu do país.
Também afirma que Luiz Bras é o coordenador do Ateliê Permanente de Criação
Literária na Casa Mário de Andrade, em São Paulo. Que Luiz Bras colabora com a Folha
de S.Paulo, resenhando os principais lançamentos do mercado editorial, e mantém uma
coluna mensal no jornal Rascunho, de Curitiba, intitulada Ruído Branco.
Também indicaos principais livros de Luiz Bras: Pequena coleção de grandes horrores (minicontos, 2014), Sozinho no deserto extremo (romance, 2012), Muitas peles (ensaios,
2011) e Paraiso líquido (contos, 2010).
Minha biografia verdadeira afirma, finalmente, que Nelson de Oliveira organizou
as antologias Geração 90 e Geração zero zero, de novos ficcionistas brasileiros, e recebeu
duas vezes o Prêmio Casa de las Américas, em 1995 e em 2010.
Que significado simbólico tudo isso encerra? Nenhum. Biografias verdadeiras são
pobres de mitologia e mistério. Não dizem a verdade sobre nosso universo íntimo. Minha
biografia inventada, mais verdadeira que a biografia anterior, não mente jamais. Ela não
esconde as crenças e os desejos mais secretos, quando afirma o império da imaginação:
Luiz Bras nasceu em 1968, em Cobra Norato, pequena cidade da mítica Terra Brasilis Na
infância ouvia vozes misteriosas que lhe contavam histórias secretas. Hoje coleciona miniaturas
e gravuras de zigurates. Gosta de pensar que essas construções míticas, sagradas, simbólicas,
abrigam criaturas e mistérios do passado e do futuro. De nosso mundo e de outros.
Só acredita em biografias imaginárias. E nos universos paralelos de Remedios Varo.
Venceu duas vezes o importante e impossível Prêmio Príncipe de Cstwertskst, na categoria
romance (2010) e na categoria conto (2014). |